A Serra do Ramalho, localizada na Bahia, é um exemplo fascinante de como a intervenção governamental pode transformar a vida de comunidades inteiras. Este artigo explora a história da região, desde a construção da barragem de Sobradinho até o assentamento das famílias, destacando as mudanças sociais e econômicas que ocorreram ao longo do tempo.
A construção da barragem de Sobradinho no rio São Francisco marcou um ponto crucial na história da região. Com a inundação de aproximadamente quatro mil e duzentos quilômetros quadrados, formou-se o segundo maior lago da América do Sul, superado apenas pelo Lago Titicaca, na fronteira entre Peru e Bolívia.
Os níveis das águas alcançaram sua quota máxima em 1978, resultando em uma mudança drástica para os habitantes locais. Muitas comunidades foram forçadas a deixar suas terras, levando a um processo de relocação e reassentamento.
O governo brasileiro, através do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), iniciou a transferência de aproximadamente quatro mil e oitocentas famílias para terras localizadas entre o rio São Francisco e a Serra do Ramalho, em Bom Jesus da Lapa.
Essas famílias, ao se mudarem, teriam garantias de suporte financeiro. Durante os primeiros seis meses após a relocação, cada família receberia um crédito de manutenção equivalente ao salário mínimo regional, distribuído em cotas mensais.
A viagem para os novos assentamentos foi marcada por momentos significativos. Os colonos, muitos dos quais nunca haviam saído de seus municípios, fizeram a travessia em barcaças pelo rio São Francisco. Essa experiência se tornou uma oportunidade de vivenciar novos horizontes e culturas.
O embarque era realizado em ônibus, criando um ambiente de alegria e celebração, onde as tradições locais, como música e danças, eram evidentes. Essa troca cultural é uma parte essencial da identidade da região.
O projeto de assentamento visava não apenas relocação, mas também o desenvolvimento agrícola sustentável. Com um custo total estimado em quatrocentos e oitenta e oito milhões de cruzeiros, o governo planejou a criação de dezesseis agrovilas, cada uma com trezentas casas e infraestrutura necessária.
A intenção era estimular um novo polo de desenvolvimento agrícola em uma área que enfrentava constante êxodo rural devido à falta de oportunidades. A mudança das famílias deveria ser concluída até dezembro de 1977, com um total de vinte e cinco mil pessoas se mudando para as agrovilas.
Cada família recebia uma casa de alvenaria, composta por sala, dois quartos e cozinha, sem custos adicionais. Os lotes urbanos eram vendidos a um preço acessível, com parcelamento em até vinte anos, sem juros ou correção monetária.
Além disso, o INCRA garantiu assistência social por meio de técnicos especializados, oferecendo serviços essenciais como saúde, educação, mercados e áreas de lazer. As casas eram equipadas com eletricidade e o acesso à água potável era garantido através de chafarizes de boa qualidade.
Para o desenvolvimento agrícola, o governo desapropriou uma área de aproximadamente duzentos e cinquenta e sete mil e quinhentos hectares, oferecendo lotes que variavam entre vinte e oitenta hectares. Com isso, grandes áreas necessitavam de desmatamento para o cultivo.
O INCRA se responsabilizou pelo desmatamento inicial de dois hectares por agricultor, permitindo que as atividades agrícolas começassem imediatamente. O processo de desmate foi iniciado em dezembro de 1975, seguindo técnicas modernas e econômicas para garantir eficácia.
O presidente do INCRA, Lourenço Vieira da Silva, realizava visitas periódicas ao projeto, entregando títulos de propriedade e acompanhando o andamento das atividades. Essas visitas eram fundamentais para assegurar que as famílias estivessem se adaptando às novas condições.
Durante as entregas de títulos, o presidente do INCRA também representava o ministro da agricultura, Alisson Paulinelli, destacando a importância do projeto para o desenvolvimento rural e social da região.
A relocação e o assentamento das famílias na Serra do Ramalho não representaram apenas uma mudança física, mas também um impacto profundo na vida social e cultural das comunidades. A mistura de culturas e saberes trouxe novas dinâmicas para a região.
As tradições locais foram preservadas e adaptadas, refletindo a resiliência das comunidades. O projeto também incentivou o fortalecimento de laços comunitários, promovendo um senso de pertencimento e união entre os novos moradores.
Embora o projeto tenha trazido muitas oportunidades, também enfrentou desafios significativos. A adaptação a novas terras e condições de vida exigiu esforço e resiliência por parte das famílias. O acesso a crédito bancário para cultivo foi um fator crucial para o sucesso dos colonos.
O suporte contínuo do INCRA e outras instituições foi essencial para garantir que as famílias pudessem se estabelecer e prosperar em suas novas vidas. A assistência técnica e social permitiu que muitos agricultores se tornassem bem-sucedidos em suas atividades agrícolas.
A história da Serra do Ramalho é um testemunho do poder da intervenção governamental na promoção de desenvolvimento social e econômico. O projeto de assentamento não apenas proporcionou novas oportunidades para as famílias, mas também promoveu a preservação cultural e a integração de diferentes saberes.
À medida que as comunidades se estabelecem e se adaptam, a Serra do Ramalho continua a ser um exemplo de resiliência e esperança. A transformação da região reflete a capacidade humana de enfrentar desafios e construir um futuro melhor.
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